Instrumentos de escrita desenvolveram-se lenta e
gradualmente ao longo do tempo para se adaptar ao que era disponível para
a fixação dos registros. De início foram usados madeira, ossos e pedras para as
gravações. Os Sumérios nos legaram muita história escrita em placas de argila
gravadas com estiletes cuneiformes.
Depois, com o papiro, pergaminho, papel e tintas os instrumentos começaram a ser modificados por artesãos e inventores, porem limitados aos materiais conhecidos e ferramentas utilizadas. Materiais como penas de aves e caniços, pelo seu formato natural oco, se mostraram de uso adequado pela facilidade de moldar pontas e mergulho em tintas.
A caneta foi tomando forma e em algum momento foi
projetada com um corpo conectado a um aparo substituível. Primeiramente estes
aparos eram de penas de ganso e aos poucos os aparos metálicos foram sendo
introduzidos.
Estas antigas canetas
funcionavam com a repetição de
imersão de sua ponta na
tinta (dip pen). Penas de ganso precisavam ser
apontadas ou substituídas e aparos metálicos se desgastavam no processo.
Usava-se cobre, aço, ouro e prata, mas mesmo metais preciosos eram sujeitos a
desgaste. Os problemas eram evidentes, porem as soluções ainda dependiam de avanços
tecnológicos e novas descobertas de materiais. Exemplo disto é a caneta
descrita pelo inventor alemão Daniel Schwenter em 1636 em uma revista, com duas penas, uma dentro de outra servindo de
reservatório. Demonstra que idéias havia, porem a tecnologia e materiais
disponíveis na época não ajudava.
Foi só a partir do século XVIII que começaram a surgir
projetos e manufaturas de instrumentos mais elaborados, porem ainda não o
suficiente para um desenvolvimento consistente. Vale mencionar a caneta de "pena sem fim" desenvolvida entre 1707 e 1715
pelo engenheiro, inventor e artesão francês Nicolas Bion que já
incorporava um reservatório e alguns consideram um marco significativo do
processo do desenvolvimento e criação da caneta tinteiro (fountain pen).
Bion era da
corte de Luis XIV e construía instrumentos científicos.
No início do século XIX foram isolados os chamados metais
platinóides (ródio, paládio, ósmio e irídio). O irídio foi descoberto pelo
inglês Smithson Tennant em 1804. Estes metais se mostraram
bastante duros e resistentes em variadas ligas. Não tardou para que fossem
utilizados nas pontas dos aparos das canetas. De início, em 1822, dois
joalheiros londrinos (Rose e Doughty, inventor e executor) haviam
desenvolvido um meio de engastar na ponta dos aparos duas pequenas pedras de
rubis. Porem, na mesma época, com a descoberta dos platinóides e suas ligas
passou-se a utilizá-los da mesma forma que os rubis o foram e em meados
do século já havia muitos fabricantes de aparos com ponta de irídio e este sim
foi um acontecimento marcante.
Paralelamente, tentava-se prover o corpo das canetas de um
reservatório e melhorar a técnica de descida da tinta. O efeito da capilaridade
ainda não era de todo dominado pelos inventores e isto era um grave problema, ou
uma barreira imensa a ser contornada. Há várias patentes de canetas tinteiro
nesta época.
Em 1819, John Sheffer, de Birminghan,
patenteou um instrumento de escrita o qual batizou de "Penógrafo" que é considerada a primeira caneta
com tinta permanente. Em 1832, o inglês John Jacob Parker
patenteou uma caneta com reservatório de pistão helicoidal. O maior problema
passou a ser a solução para se evitar os vazamentos da tinta. Para tanto
era necessário aprender mais sobre capilaridade e desenvolver um mecanismo mais
simples de saída da tinta e entrada de ar.
No século XIX a cidade inglesa de Birminghan era o centro
mundial de fabricação de aparos com ponta de irídio e canetas de aço. Em 1858,
Richard Esterbrook migrou da Inglaterra para os EUA levando artesãos de
Birminghan para construir sua pioneira fábrica de canetas na América que ali se
tornaram populares pelo preço acessível e também pela qualidade, robustez e fácil manutenção. Suas penas eram
rosqueáveis, o que facilitava a substituição.
A patente de Waterman mostra a secção transversal do
condutor com sulcos.
Mecanismos de auto enchimento incorporado nas canetas
(self filler) passaram então a ser pesquisados. Para tanto, reservatórios de
borracha se tornaram fundamentais. Em 1897,
Roy Conklin registrou a patente de um dispositivo chamado “Crecent filler”. Era um reservatório de borracha
(rubber sack) acionado por um arco com aspecto de lua crescente colocado de
forma a ser pressionado na parte externa da caneta. Com a pena mergulhada na
tinta, pressionando este arco o mecanismo comprimia o saco de borracha e depois
de soltá-lo a expansão da borracha sugava a tinta para seu interior. Este
mecanismo é o, ou um dos primeiros “self filler”. Daí em diante, vários
mecanismos de enchimento (botão, êmbolo, touchdown,
pump filler, snorkel, coin filler, vacumatic, aerométrico com saco de plástico
ou “pli-glass”, pistão ou conversor, etc) foram desenvolvidos e
incorporados pelos diversos fabricantes em suas canetas.
Outros tipos de mecanismos visando a melhoria operacional das canetas passaram a compor esta evolução, como o cartucho (em vidro) da Eagle em 1890, a “lucky curve” (para evitar que a tinta suba pelo aparo quando a caneta está em repouso) da Parker em 1894, o aparo retrátil da Moore em 1896, barra de compressão, que compunha o sistema de enchimento por alavanca lateral (lever filler) da Sheaffer’s em 1908, dentre muitos outros no final do século XIX e início do XX.
Outros tipos de mecanismos visando a melhoria operacional das canetas passaram a compor esta evolução, como o cartucho (em vidro) da Eagle em 1890, a “lucky curve” (para evitar que a tinta suba pelo aparo quando a caneta está em repouso) da Parker em 1894, o aparo retrátil da Moore em 1896, barra de compressão, que compunha o sistema de enchimento por alavanca lateral (lever filler) da Sheaffer’s em 1908, dentre muitos outros no final do século XIX e início do XX.
A grande revolução, entretanto, ainda estava por
acontecer. A primeira patente da caneta esferográfica foi obtida pelo americano John J. Laud em 1888.
Entretanto a moderna esferográfica (ballpoint pen)
nasceu da patente do húngaro László J. Biró em 1938. A ponta
desta caneta é uma esfera metálica que ao rolar sobre o papel deposita a tinta
que ocupa um reservatório, simples assim. Esta patente foi obtida em Paris, mas
Biró emigrou para a Argentina onde se naturalizou e começou a fabricar suas
canetas “Birome”. Em 1944 a Eversharp
adquiriu a patente de Biró para fabricá-la nos EUA e em 1949 o francês Marcel
Bich fez o mesmo para a Europa. Bich teve maior sucesso e popularizou sua
comercialização a partir da França (nos EUA as esferográficas “Bic” foram introduzidas em 1959) com um produto tão simples e barato
que era descartável após o término da tinta e praticamente monopolizou sua
comercialização. Nos EUA a esferográfica mais vendida a partir de 1945 era
fabricada por Milton Reynolds.
A patente de Biró com o detalhe da ponta com esfera.
A patente de Biró com o detalhe da ponta com esfera.
Hoje muitos outros modelos e tipos de canetas estão disponíveis no
mercado, como por exemplo a rollerball, porem
nenhuma ainda ameaça o domínio das esferográficas. Ainda assim, a maior parte
dos fabricantes mais tradicionais das canetas tinteiro continuam a fabricar
suas belas e boas canetas e outros mais se somaram neste filão, pois a demanda
por seus produtos ainda é grande, seja pelo apelo a um produto de maior valor
material ou pelo prazer de escrever de uma forma tão tradicional. Alem da
comercialização de canetas novas, criou-se um grande mercado paralelo para
colecionadores de canetas antigas que praticamente fez desaparecer a
disponibilidade destes produtos para aficionados comuns. Como estas canetas
foram fabricadas com materiais e técnicas artesanais para serem muito duráveis
elas ainda funcionam depois de dezenas de anos de uso e são portanto objeto de
desejo e muito procuradas por estes colecionadores o que inflaciona seu preço.
Dentre as fabricadas hoje é possível comprar boas canetas tinteiro por preços
acessíveis ainda que canetas de valores mais elevados de marcas famosas continuem
a ser produzidas e remodeladas.
Cronologia
Caneta
|
Ano
|
Pessoas/Empresas
|
Evento
|
País
|
Dip pen
|
...
|
...
|
Aparos de metal
|
...
|
?
|
1636
|
Daniel Schwenter
|
Duas penas
|
Alemanha
|
Fountain
pen
|
1715
|
Nicolas
Bion
|
Plume
sans fin
|
França
|
1819
|
John
Sheffer
|
Penógraphic
|
Inglaterra
|
|
1804
|
Smithson Tennant
|
Irídio
|
Inglaterra
|
|
1822
|
Rose/Doughty
|
Engaste de rubis
|
Inglaterra
|
|
1832
|
John J.
Parker
|
Pistão helicoidal
|
Inglaterra
|
|
1858
|
Richard Esterbrook
|
Nova fábrica
|
EUA
|
|
1884
|
L.E.
Waterman
|
Regular
|
EUA
|
|
1890
|
Eagle
|
Cartucho
|
EUA
|
|
1894
|
Parker
|
Lucky
curve
|
EUA
|
|
1897
|
Conklin
|
Crecent
filler
|
EUA
|
|
1894
|
Moore
|
Pena retrátil
|
EUA
|
|
1908
|
Sheaffer’s
|
Barra compressão
|
EUA
|
|
Ballpoint
pen
|
1888
|
John J.
Laud
|
Primeira patente
|
EUA
|
1938
|
László Biró
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|
Projeto
Patente
Birome
|
Hungria
França
Argentina
|
|
1944/1949
|
Eversharp/Marcel
Bich
|
Compraram a Patente de Biró
|
EUA/França
|