30/04/2025

Do carvão ao grafite

Pedaços de carvão ou madeira queimada serviram para deixar registrado marcas e desenhos nas cavernas pelos nossos antepassados, e o lápis de grafite só veio a ser inventado no século XVI. 

As primeiras lapiseiras propelentes datam do século XIX, mais especificamente de 1823, portanto há mais de 200 anos. Sampson Mordan & Co era o fabricante inglês e detinha a patente, mas outros fabricantes entraram na concorrência. Eram lapiseiras metálicas e pouco se assemelhavam às atuais no formato, apesar de operarem de forma semelhante. 

Lapiseira do final do século XIX ou início do XX

O formato destas primeiras lapiseiras foi mantido com pequenas variações até o início do século XX, quando começaram a aparecer as formas mais semelhantes às atuais, agora utilizando também materiais poliméricos para o corpo e introduzindo formatos mais ergonômicos.

Lapiseira e caneta tinteiro Duofold da década de 1920


De lá para cá poucas novidades surgiram em termos funcionais, apesar da grande variedade de estilos disponíveis no mercado e melhorias nos mecanismos de propulsão. Por algum tempo a inovação que mais chamou a atenção foi do uso de grafite líquido (Liquid Lead), com cargas semelhantes a canetas esferográficas, porém logo foi abandonada.

Lapiseira Liquid Lead e caneta tinteiro Parker 41 – 1956/58


Até hoje os fabricantes de canetas tinteiro costumam oferecer para venda lapiseiras conjugadas em estojos com ambas assumindo o mesmo nome de modelo.

As indústrias de lápis e lapiseiras se mantêm bastante sólidas e os grandes fabricantes estão no mercado há muito tempo, sendo que os principais são bem conhecidos de todos nós pelas suas tradicionais marcas. 


26/04/2025

As italianas

 

As canetas européias já foram mais populares no passado, como as inglesas, francesas e alemãs, onde muitos fabricantes produziam canetas tinteiro de preços acessíveis para uso no dia a dia. Hoje algumas marcas ainda continuam no mercado, mas a produção de algumas delas foi voltada para o mercado de luxo, de alto valor de venda, cujos produtos são considerados verdadeiras jóias. 

Marcas como a alemã Montblanc, a suíça Caran d'Ache, as francesas Cartier e Dupont, entre outras, se dedicam quase que exclusivamente à produção de canetas com alto valor agregado. A produção é limitada, mas a procura continua.

Mas quando se fala em canetas de luxo, é preciso lembrar primeiramente das famosas marcas italianas, país onde há uma concentração maior de fabricantes de canetas de qualidade superior. As principais são: Aurora, Ancora, Omas, Delta, Visconti e Montegrappa, não necessariamente nesta ordem, pois as preferências variam.

Montegrappa (1912), Ancora e Aurora (ambas de 1919) são as mais antigas e tradicionais. Omas (1925) fechou em 2016, porém a marca ressurgiu em 2023. Delta (1985) fechou em 2017 e ressurgiu em 2022. Visconti (1988) é a mais recente. Todas elas fabricaram no passado vários modelos de canetas que se tornaram ícones para colecionadores e aficionados, e continuam lançando modelos em série ou comemorativas e de edições limitadas. 

Seus preços refletem o custo dos materiais e mão de obra especializadas que demandam. Sua matéria prima abrange metais raros, pedras preciosas e materiais poliméricos de primeira linha. A montagem é artesanal e são consideradas verdadeiras obras de arte. Normalmente são montadas e testadas individualmente.

É claro que o alto preço destas canetas as torna praticamente inacessíveis à grande maioria dos consumidores. A quem, mesmo assim, sonha em possuir uma delas, resta procurar por ofertas de usadas em vendas pela internet, ou participar de leilões online, onde os preços podem ser mais baixos e eventualmente alguma oferta pode se encaixar no orçamento de quem está à procura. Porém essa procura pode não ser muito fácil, pois mesmo o mercado de usados é limitado.

21/04/2025

Tinta e papel


Atualmente poucas pessoas se importam com tipos de papel, pois cada vez se escreve menos de forma manual e qualquer papel é usado com canetas esferográficas que predominam no mercado. As esferográficas descartáveis democratizaram a escrita, pelo seu baixíssimo custo. Sua tinta à base de óleos solúveis não é exigente quanto ao tipo de papel,  pois sua secagem é muito rápida e mesmo em papéis de baixa gramatura não borra ou ultrapassa para o verso.

Tintas à base de água,  como as usadas em canetas tinteiro e em instrumentos de desenho, entretanto,  têm melhor resultado em papéis específicos,  devido ao problema de sua absorção e secagem ser mais demorado.

É preciso sempre lembrar que tintas para desenho, como a nanquim, não devem ser usadas em canetas tinteiro, pois apesar do solvente ser água,  esta tinta é composta de goma aglutinante (cola) que depois de seca não se dissolve mais com água, o que resulta em entupimento irreversível. Tintas de impressoras também não devem ser utilizadas, pois incorporam elementos prejudiciais.

Canetas tinteiro são mais exigentes quanto a tinta e papel quando se deseja uma experiência mais agradável de escrever e uma melhor conservação dos componentes da caneta. Tintas e papéis de maior qualidade custam mais caro e não são tão fáceis de se encontrar no comércio de rua. Dependendo do tipo procurado é preciso adquirir no exterior ou no comércio virtual. Isso se deve ao baixo consumo, o que restringe a oferta.

As tintas mais tradicionais,  normalmente associadas a marcas famosas, são as mais recomendadas, como: Skrip da Sheaffer, Quink da Parker, Pelikan, Montblanc, J.Herbin, etc. Deve haver cautela com tintas asiáticas mais baratas.

Papéis de gramaturas mais elevadas, no mínimo de 90 g/m2,  são mais adequados para canetas tinteiro, mas existem papéis mais especificamente fabricados, como os de marca Rhodia, Clairefontaine, Leuchtturm1917 entre outros, que possuem textura, espessura e resistência adequadamente projetados. Há ainda papéis com revestimento especial com este propósito.

A transição da caneta tinteiro para a esferográfica acarretou numa mudança de cultura na escrita, principalmente no ocidente, que parece irreversível e o mercado ficou restrito. Felizmente essa cultura ainda sobrevive na Ásia principalmente, o que tem mantido ainda a sobrevivência e oferta destes produtos.

16/04/2025

Pena, aparo ou "nib"


A peça mais importante da caneta tinteiro é mais conhecida como pena, nome derivado dos primórdios da escrita, quando eram utilizadas penas de aves aparadas como canetas. Daí também vem a origem do nome aparo. As pontas destes  instrumentos eram mergulhadas em tinta e depois usadas na escrita. Em inglês é referida como "nib" e em espanhol pluma.


Com o tempo e avanços tecnológicos,  as penas passaram a ser confeccionadas em metal, e até hoje equipam as canetas tinteiro. Ligas metálicas de muitos tipos são usadas. Basicamente são ligas de aço que podem ser revestidas de outros metais, como  o ouro por exemplo. Penas de ouro são mais caras, mas mesmo elas podem ser consideradas ligas, pois o ouro puro é um metal demasiado mole.


As penas em sua maioria são bipartidas, formando duas pernas (“tines”), para obter um canal por onde a tinta flui. Em sua maioria também possuem um orifício onde a bipartição começa, para melhorar a resistência do conjunto.


Duas características importantes das penas são: espessura e flexibilidade. A espessura está relacionada à escrita, como fina, média, grossa, etc. A flexibilidade permite formatos variados de estilos em função da pressão e torção da pena durante o uso. Normalmente as penas são mais rígidas que flexíveis, para proporcionar uma escrita de espessura uniforme.


Com a descoberta de metais mais duros que o aço no século XIX,  como o irídio e outros, passou-se a engastar uma pequena ponta destes metais na extremidade das penas, resolvendo o problema do desgaste metálico das pontas devido ao atrito com o papel e também a corrosão provocada pela tinta. Devido ao alto custo do irídio,  outros metais mais baratos e menos raros também são usados atualmente, apesar de costumeiramente serem genericamente chamados de iridium.


Além das penas comuns de canetas tinteiro, existem penas menos populares, usadas principalmente em caligrafia. São chamadas "Stub" e são fabricadas em variados formatos de ponta, para diversas espessuras, retas e oblíquas, o que permite aos calígrafos infinitos efeitos especiais de escrita, combinando as diferenças proporcionadas pela variação da movimentação horizontal e vertical da pena.


As penas são fixadas nos alimentadores, peças de material polimérico que as ligam ao reservatório de tinta e normalmente substituições e reparos exigem algum conhecimento ou até serviço profissional. Entretanto,  alguns modelos de canetas são projetados para facilitar a substituição. Há casos de penas rosqueáveis ou apenas fixadas por pressão, que não exigem habilidades ou ferramentas para remoção e colocação.


O mais importante para uma boa conservação da pena é  o uso de tintas de boa procedência, pois há  tintas que podem provocar danos irreversíveis devido a corrosão e entupimento.